Boicote de jornais brasileiros ao Google News é tiro no pé

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Oct 22, 2012
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Boicote de jornais brasileiros ao Google News prejudica o tráfego e favorece concorrentes digitais.
E a ANJ decidiu orientar seus membros a optarem por ficar de fora do Google News. Seus membros, claro, obedientes que são, aderiram em massa à ordem. É uma decisão em sintonia com que os moguls da mídia tradicional no resto do mundo, como Rupert Murdoch, já haviam feito. “O que o Google faz é roubo puro e simples”, declarou o Darth Vader da mídia impressa anglo-saxã. A medida é um reflexo da ausência de políticas digitais no cenário brasileiro. Mais cedo ou mais tarde, a medida será repensada. O próprio Murdoch já mudou de ideia e mudou a política para admitir parcelas de conteúdo rastreadas pelo buscador.
Vale lembrar que todos os grandes provedores de conteúdo jornalístico do Brasil vendem seu conteúdo através de agências e esses mesmo textos continuarão na Internet. O boicote visa fazer com que o Google pague pelos conteúdos que seus visitantes lêem e isso é um devaneio. Não faz sentido para o Google pagar nada, a menos que dentro de uma estratégia maior de, pelo menos até o momento, ainda não foi divulgada.
Contudo,  nesse meio tempo, os jornais estão abrindo uma grande brecha para outros provedores de conteúdo drenarem o tráfego gerado pelo agregador de notícias do Google. Portais não-ligados a jornais e mesmo sites informativos exclusivamente digitais vão dividir o tráfego do Google que ia para os jornais. Em 2011, Arianna Huffington anunciou que seu site estaria instalado no Brasil até novembro (claramente ela subestimou o pesadelo fiscal e legal que é o Brasil e a versão brasileira ainda não estreou). Se o HP já estivesse caminhando no Brasil, agradeceria o favor que os barões do impresso estão fazendo.
Os agregadores de notícias não são exatamente elegantes nem são os aparatos finais para consumo de notícias, mas por hora, já deixaram de lado os sites dos jornais como principal fonte de acesso à informação. Estivessem os jornais dispostos a parar de fazer a entrega de conteúdo através de suas agências, talvez (e só talvez), megaagregadores como o gigante californiano poderiam estar numa posição menos confortável.  A questão é que a época de vender várias vezes  a o mesmo material se encerrou. Get over it.
O quadro poderia ser bem diverso, caso houvesse um planejamento para a mídia digital mais abrangente. O problema não está em espremer novos personagens do cenário jornalístico. Os jornais (revistas e emissoras de TV) precisam refazer suas espinhas dorsais para encontrar como adequar a produção de material noticioso dentro dos novos parâmetros financeiros. Chorar e espernear não vai adiantar e pegar a bola e ir para casa também não.

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