‘Outbound links’ ainda são um tabu para publicações brasileiras

date
Nov 26, 2012
slug
2012-use-of-external-links-is-dilemma-for-journalistic-companies-2012-11-26
status
Published
tags
links
brasil
mídia
type
Post
ogImage
summary
Dilema do controle de links e a importância da flexibilidade para uma melhor experiência do usuário ainda são tópicos incômodos.
Existe, nos jornais (e não só nos brasileiros), um dilema de controle no que diz respeito à gestão de links. A herança da mídia tradicional sugere que dar crédito ao concorrente é um sinal de incompetência (afinal, “por que eles deram e nós não?”) e, de fato, em vez de abrir espaço para criar links para matérias em outros sites que não pertençam ao “Império”. O problema está no fato de que, digitalmente, essa conta não fecha. Todas as empresas que tiveram períodos hegemônicos na era digital o fizeram porque passaram a concorrência para trás ao apostar em paradoxos mais versáteis e plurais do que se fazia até então. Pensar em estratégias que levem esse histórico em conta garantirá vantagens competitivas aos vanguardistas.
A primeira discussão no assunto é a respeito de uma estratégia de uso de links que boa parte das empresas de notícias usa - as páginas de “tópicos” (aquelas que usam uma determinada tag para você saber “tudo” sobre um assunto). Haja vista que essas páginas podem dar zero de trabalho para criar (tudo é agregado automaticamente pelo sistema segundo a leitura das tags), não se trata necessariamente de um problema em si - elas até podem servir como arquivos. Elas se transformam num problema a partir do momento em que as empresas imaginam que a adoção das páginas de tópicos são a solução do problema de contextualização de assuntos.
Este post do jornalista Steve Yelvington esgota o assunto “perigos da página de tópicos”. Resumindo, ele diz, com muita pertinência, que resumos feitos por robôs tendem a não criar um contexto, mas sim verdadeiros depósitos de conteúdo, que poderiam ser comparados a estoques de livros de uma livraria tosca. Os livros estão lá mas não são necessariamente conhecimento, e sim, informação aleatória.
Um segundo ponto de discussão é o dogma interno das redações de “não vamos dar tráfego para eles” e, costumeiramente, o máximo de links que se faz na página é para matérias sobre o assunto feitas pela própria empresa (e nem sempre representam “contexto”, podendo simplesmente ser sobre as mesmas tags).
A estratégia das páginas de tópicos é positiva, caso o intuito seja melhorar o ranking de SEO da empresa (como explica este artigo do SeoMoz), mas ela não tem função na provisão de uma melhor experiência para o usuário (apesar de praticamente todas as publicações brasileiras encararem isso desta forma). Na verdade, o usuário tende a ver os links posicionados em lugares fixos da página (dependendo da publicação, os links para “topic pages” estão no meio do texto, entre parágrafos, num “leia Mais”, etc) como lixo e raramente as visita.
Uma maior flexibilidade no uso de links necessariamente dá uma melhor experiência ao usuário e assegura que ele voltará, ainda que tenha seguido para outro site ao acompanhar uma matéria (o que raramente acontece com uso de bom HTML). No caso de se perceber que sempre é preciso linkar para outros sites, é o caso de se perguntar se a apuração das matérias está sendo feita adequadamente (com um punhado de agências, não falta material para cobrir 99% das matérias em contexto, do tipo “o que é o caso tal”, “quem são os personagens”, “linha do tempo” etc).
A aposta numa melhor experiência para o usuário está diretamente relacionada à natureza aberta e agregadora da web. Empresas que trabalham mais dispostas a se fundir ao caldo informativo da web tendem a ser beneficiadas no longo prazo (claro, desde que as redações também estejam fazendo um bom trabalho, que seja melhor do que o concorrente). Não há escapatória desta lógica. Polos “fechados” a essa liberdade são punidos (basta ver o retorno da News Corporation ao modelo “freemium” que permite ao usuário a leitura de uma quantidade específica de matérias por mês) e isso também é verdade em relação à tola decisão da ANJ de fechar seus conteúdos ao Google News. Para o jornalismo, a prestação de contas quanto à qualidade e transparência ficaram assustadoramente grandes. No fim, é isso que torna tão difícil convencer as redações a aceitar a livre competição.

© Cassiano Gobbet 2023 - 2024