Brasil se atrela ao subdesenvolvimento digital

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Jun 7, 2012
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Brasil
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Internet
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Brasil enfrenta desafios no acesso à internet e inclusão digital, comprometendo seu potencial de desenvolvimento.
Os excessos do capitalismo previstos por Karl Marx no século XIX são a marca crescente do século atual. Entre ricos e pobres atingiram níveis provavelmente inimagináveis para Marx. Cerca de 40% da riqueza global está nas mãos de 1% da população, segundo a ONU e com pouco mais de mil pessoas detendo aproximadamente US$5 trilhões, num total estimado de US$125 trilhões de riqueza global. O avanço da digitalização tem um imenso potencial de trabalhar em cima desta marca. As possibilidades de multifragmentação oferecidas pelo digital são incontáveis, indo do ensino à oferta de consumo, mas desde que essa revolução digital esteja ao alcance de um número maior de pessoas. Neste aspecto, assim como em educação ou saúde pública, o Brasil vive de números somalis. O acesso ao mundo digital no Brasil é caro, mal-regulado e ruim.
Na década passada, a penetração de acesso digital no país pulou de 2% para 38%, mas basicamente por duas razões: crescimento da economia a passos largos na própria década e efeitos da privatização das empresas de telecomunicação uma década antes. O brasileiro ainda paga caro por um produto de péssima qualidade. Para ampliar o alcance digital, no apagar das luzes de seu governo, o ex-presidente Lula criou um de seus últimos factóides governamentais, o Plano Nacional de Banda Larga. Objetivo: através da estatal Telebrás ressuscitada por Lula, conseguir 30 milhões de assinantes até 2014 a um preço “popular”. Hoje, na metade deste prazo, o governo “não sabe” quantos assinantes tem de seu plano oferecido em 1300 cidades, com órgãos de defesa do consumidor criticando-o sob todos os aspectos, e com as operadoras escondendo-os em seus menus de ofertas de planos. Assim como o Fome Zero, o PNBL é um grande outdoor que não entregou nada. Tanto a eliminação da miséria quanto a ampliação do acesso digital aconteceram por razões estruturais.
Na realidade, os planos do PNBL nem precisariam ser escondidos. O plano do PNBL oferece 1Mbps a R$35. Para se ter uma ideia do assalto que isso representa, no Japão, onde a velocidade média da Internet é 6000% maior que isso, o valor cobrado por Mbps é de R$0,50. Mesmo em termos de acesso à Internet pública, somente Nigéria, Quênia e Congo têm preços maiores que o Brasil. O esquizofrênico monstrengo estatal sae que a Internet é um instrumento de profunda mudança social, mas as políticas públicas não são ditadas pelas nescessidades e sim pela corrupção endêmica que paralisa os pouquíssimos dirigentes que têm alguma preocupação com o país em si. Ao admitir que o plano precisa ser revisto, o governo “tranquiliza” a população: a velocidade será mais alta, mas o valor cobrado também subirá. O impacto da banda larga sobre os níveis de educação parece certo, mas a ação do Estado para viabilizar esse empowerment do usuário é indispensável. No Brasil, a ação do Estado é (e sempre foi) catastrófica neste sentido.
Medidas para favorecer a competição no mercado de informação seriam um passo decisivo. Um relatório feito por uma ONG americana sugere uma série de medidas como fomentar inovação, aumentar o apoio a entidades que estimulem a produção de informação dedicados às comunidades, estimular a participação de universidades no processo de criação de conteúdo informativo sobre essas comunidades e aumentar a transparência das informações do próprio governo. O Brasil ignora com determinação cada uma dessas sugestões. Em relação à inovação, um relatório da ONU menciona o atraso dos BRICs na corrida da inovação, onde o Brasil é nominalmente citado como tendo tido “a pior queda de nível” entre os BRICs.
Fosse este um  post sobre educação ou pluralidade na propriedade das empresas de mídia, seria igualmente possível explicitar o tanto que o país é irresponsável em termos de políticas públicas, mas atendo-se somente ao desempenho das políticas para inclusão digital, o Brasil está em completa assincronia com a condição de potência emergente. O serviço que os brasileiros têm é ruim (com os provedores de Internet frequentemente no topo da lista de reclamações no Procon), a agência reguladora é fraca e politicamente frágil, os investimentos em infraestrutura são modestíssimos (e os próximos eventos globais realizados aqui deixarão isso claro), e ainda que o custo real de um Mb seja baixíssimo (apesar de um grande investimento inicial, transmitir um Gigabyte  - cerca de 17 minutos de uma conexão estável de 1Mbps custa R$0,06), seguimos às cegas.
O conluio da educação privada com a gestão obscena do MEC impedem a criação de cursos de ensino à distância, em detrimento de formadores de semianalfabetos diplomados que pagam com sacrifício para iludirem-se com a passagem à condição de “graduado”, com títulos oferecidos por faculdades que deveriam levar seus donos à cadeia pelo estelionato educacional que vendem.  A fronteira digital está ao alcance do Brasil, mas ele, por todas as razões que historicamente nos infectaram com a corrupção endêmica, não se esforça em alcançá-la. Sem uma tríade de inclusão digital, favorecimento para concorrência no mercado de informação e inovação, manteremos o título de “país do futuro” para sempre.

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